quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Tantos fogos assolam todo Norte do País, porquê ?


Já toda a gente pensou e disse: É porque está mais calor que o normal, é porque há cada vez mais ordinários que gostam de pôr o fogo na mata só para ver arder ou mesmo para ver os bombeiros e meios aéreos em acção ou mesmo, é porque se gasta muito em subsídios e a ninguém se manda limpar uma palha.
Aquilo que todos sabem e não se diz nos meios de comunicação social, é que os pequenos agricultores faziam este trabalho com sabedoria, mestria e eficácia e resolviam um problema nacional no qual os governos nem se preocupavam. Matos limpos, campos cultivados faziam parte do ciclo da vida na lavoura. Mas agora, acabou-se com o pequeno produtor de leite e este é sem duvida o busílis da questão, sem leite foram-se as vacas (quantas havia na Facha uns anos atrás - 500 ?... 600 ? mais…), as vacas limpavam os campos até acabar a última erva e passarem a comer a palha seca do inverno, muitas pastavam nos montes mas, todas dependiam das carradas de tojo que se iam buscar ao monte e que, neste mês de Agosto, era preciso marcar o mato e até açambarcar para encontrar um local onde fosse possível arranjar um pouco que fosse suficiente para o carro de bois desse dia. Ficava o monte rapado, rapado e limpo, porque quando o mato já era em quantidade suficiente, voltava-se a atenção para as lenhas que iriam aquecer as lareiras no inverno, se o madeireiro se distraía, até uns rolitos vinham camuflados por entre a lenha.
Agora vejam, na Facha os números dos "anos 90" não enganam, mesmo quando arredondados:
Freguesia da Facha:
- 1500 Habitantes (cerca de 500 viviam exclusivamente da agricultura)
- 1500 Hectares (cerca de 500 de cultivo e 1000 de floresta)
Bem vistas as coisas, tocava, em média, um hectare a cada Fachense e um hectare são dois campos de futebol, um no campo e um de mato. Por isso, logo se vê, nunca foi difícil limpar tudo e assim se passava por todas as terras deste Minho e Norte do País.
Mas os políticos não quiseram manter os pequenos agricultores, retiraram as cotas de leite, aumentaram as rações e os adubos e baixaram o preço do milho e da batata, a formula perfeita do extermínio dos agricultores e tudo só porque Bruxelas manda que assim seja.
E agora, os 350 milhões de euros necessários, só este ano, para pagar os prejuízos causados pelos fogos davam para chegar até onde, na nossa pequena agricultura?
Com toda a certeza ninguém pretende voltar aos tempos da enxada de sol a sol mas, os tempos são outros, há mais e melhores maquinarias, quem sabe se a este agricultor não dava jeito entregar uma carga de mato no centro de produção de energia biológica e trazer em troca o depósito do gasóleo cheio?
Talvez valesse a pena pensar nisto.

1 comentário:

  1. As campanhas de prevenção insistem sistematicamente em nos avisar para não fazermos piqueniques com fogo, não jogar beatas para o chão, não deixar latas nem vidros pela mata como prevenção de incêndios que desde à algumas décadas nos atingem anualmente. Na realidade, as pessoas estão hoje desde os primeiros anos de escola muito mais sensibilizadas sobre o perigo de incêndio do que estavam à 30/40 anos. Havia então o hábito de fazer piqueniques com fogo e tudo (para assar umas febras, umas sardinhas...), Os homens fumavam muito mais do que hoje e as beatas eram jogadas fora, embora houvesse o bom senso de não as deitar em local de risco. Também quase não havia meios para combater os fogos: havia muito menos bombeiros, muito menos carros de combate e em muitas zonas nem sequer os havia e também não havia meios aéreos de combate. Para além dos já referidos piqueniques, hoje substituídos por almoços no restaurante, havia os trabalhadores rurais das ceifas, das debulhas, tiragens de cortiça, apanha de tomate e outras tarefas no campo que faziam no próprio local o seu almoço, ao ar livre, em "cocarias" (termo usado no Alentejo para os locais onde os trabalhadores rurais colocavam a sua panela, em geral de barro, a cozinhar o almoço), os homens fumavam e não guardavam as beatas na algibeira, porém, os incêndios eram uma coisa rara. Há hoje apenas um senão: devido à desertificação dos campos existe realmente mais mato o que não pode justificar tudo, até porque muitos dos incêndios começam frequentemente em sítios inacessíveis, de noite e em vários locais ao mesmo tempo, são os próprios bombeiros e as populações locais que o dizem. Alguns incendiários até chegam a ser capturados, mas depois as conclusões apontam em geral para motivos fúteis ou de insanidade mental dos autores e não se vai mais longe nas investigações.
    Será que isto é fruto dos revoltados desta sociedade? Estarão os portugueses a ficar todos pirómanos? Existirão interesses obscuros e influentes que impedem que se consiga chegar a outras conclusões?

    Zé da Burra o Alentejano
    zedaburra@sapo.pt

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